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quarta-feira, março 20, 2013

Estremocense Sérgio Malacão, ex-Comandante do posto da GNR de Coruche, nega em tribunal actos de tortura


O estremocense Sérgio Malacão, ex-Comandante do posto da GNR de Coruche, desmentiu categoricamente em tribunal ter praticado quaisquer actos de tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes e desumanos ou cometido agressões violentas sobre três vendedores ambulantes que foram detidos na sequência de desacatos ocorridos nas festas da vila, em Agosto de 2010.
Acusado pelo Ministério Público (MP) de três crimes de tortura, praticados dentro do posto da GNR, e dois de ofensas à integridade física qualificada, sobre duas mulheres familiares dos queixosos, Sérgio Malacão, que actualmente presta serviço no Posto da GNR de Setúbal, afirmou-se inocente perante o coletivo de juízes que o começou a julgar no dia de ontem terça-feira, 19 de Março, no Tribunal de Coruche.
Na versão do primeiro-sargento, houve realmente uma luta corpo a corpo entre ele e dois dos queixosos, Carlos e Diamantino Dias, quando estes se recusaram apresentar a sua identificação no recinto das festas.
Segundo o ex-comandante, depois de alertado por populares de que estavam feirantes a fazer “venda agressiva” no recinto da festa, dirigiu-se ao local “fardado” e “sozinho”. Disse que, aí chegado, os vendedores “recusaram identificar-se, ameaçaram-me de morte e agrediram-me com um cajado”. O primeiro-sargento assumiu que puxou do seu bastão e que agrediu os feirantes, mas para se defender até à chegada dos restantes militares, acrescentando que um terceiro elemento, de 16 anos, tentou separar os envolvidos. Minutos depois, chegaram mais militares que detiveram e algemaram os feirantes, transportando-os para o posto, onde foi feito o expediente, afirmou Sérgio Malacão, garantindo não ter tido mais contacto com os ofendidos.
"Assumo plenamente o que ocorreu durante as festas, mas tudo o resto são mentiras e fantasias", afirmou o militar, que acrescentou ainda estar a ser vítima de uma queixa-crime que provavelmente persegue uma indemnização cível de 75 mil euros.
Segundo o despacho de acusação, Sérgio Malacão terá obrigado os três feirantes a ficar de joelhos no posto, enquanto os agrediu com objetos como um bastão, um chicote conhecido por "rabo de boi", uma mangueira, um telefone e até uma ventoinha, entre outros, e de ter mesmo jogado à roleta russa com um revólver apontado à cabeça de Carlos Dias, enquanto os humilhava verbalmente.
Segundo o militar, os queixosos nunca saíram da secretaria do posto enquanto foi elaborado o expediente, tendo sido de seguida libertados.

Vendedores ambulantes contam outra versão
Após terem saído do posto da GNR de Coruche, a família de feirantes foi diretamente ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde foram socorridos aos múltiplos ferimentos que apresentavam.
No dia seguinte, 17 de Abril, dirigiram-se ao escritório do seu advogado, Manuel Mendes Ferreira, onde foram fotografadas as marcas de agressão e foi redigida a participação efetuada ao MP, e que dá corpo a grande parte do despacho de acusação.
No Tribunal de Coruche, Carlos e Diamantino Dias contaram uma versão totalmente diferente do relato de Sérgio Malacão, mais próxima daquela que consta da acusação, negando as injúrias, as agressões e as ameaças de morte, mas os depoimentos de ambos chegaram a ser pouco consistentes e até contraditórios em algumas partes que ficaram mal explicadas perante o coletivo de juízes.
Os agredidos contaram que não houve qualquer briga no recinto das festas, onde Carlos Dias foi, sem razão aparente, ameaçado e agredido com um revólver e gás pimenta pelo militar, tendo Diamantino e Rafael acorrido em defesa do pai.
De acordo com um dos vendedores, o militar “estava embriagado” quando, vestido à civil, chegou ao local e perguntou ao seu pai: “Ainda aqui estás?” De seguida, “apontou um revólver” ao familiar, a que se seguiu “uma coronhada na cabeça”.
A defesa de Sérgio Malacão contrapôs esta versão, afirmando que o primeiro-sargento estava devidamente uniformizado e de serviço nas festas.
Segundo o MP, os ofendidos foram encaminhados para o interior do posto e colocados numa sala de “joelhos no chão”. O arguido “começou a desferir pancadas na zona das costas e das cabeças dos três homens”, primeiro com “um bastão” e depois com “um chicote”, além de pontapés.
A acusação sustenta que o primeiro-sargento utilizou ainda “um telefone, uma ventoinha e uma mesa” para atingir os ofendidos na cabeça e nas costas. “Seguidamente, pegou num revólver e, ao estilo do jogo da roleta russa, apontou-o a um dos homens e percutiu o gatilho várias vezes, tendo ainda vaporizado gás pimenta nos olhos das três vítimas”, acrescenta a acusação.
As presumíveis agressões aos três homens, sempre algemados, continuaram num pátio, ainda no interior do posto da GNR de Coruche. Aí, alegadamente, o arguido “desferiu pancadas nas costas das vítimas com uma mangueira”, agarrou os cabelos do jovem de 16 anos e “atirou-lhe a cabeça contra um jipe”.
Além dos episódios em que alegadamente estiveram envolvidos dentro do posto da GNR de Coruche, os feirantes contaram ainda que Sérgio Malacão agrediu à bofetada as esposas de ambos, o que também foi negado pelo militar, que disse nem sequer ter estado em contacto com as mulheres.
Refira-se que Carlos e Diamantino Dias também são arguidos neste processo, respondendo ambos pelos crimes de ofensa à integridade física, ameaça e injúria, todos na forma agravada, por terem sido cometidos sobre um agente da autoridade.
O julgamento prossegue a 9 de Abril, com a inquirição das primeiras testemunhas arroladas pelos vendedores ambulantes.

Texto: Pedro Soeiro c/ LUSA e Rede Regional | Imagem: DR

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